Encare a tristeza

Sem medo de ser INFELIZ – A tristeza nem sempre é encarada como algo que faz parte da vida e os critérios de diagnóstico que distinguem esse sentimento da depressão ainda não são claros. Por isso muita gente anda se enchendo de antidepressivos.

por André Santoro

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Os economistas David Blanchflower, do Darthmouth College , nos Estados Unidos, e Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, na Inglaterra, publicaram recentemente um estudo que traz uma revelação sobre os nossos altos e baixos: segundo os pesquisadores, a probabilidade de termos episódios de tristeza profunda é muito maior na meia-idade, lá pelos 40 anos, do que na juventude ou na velhice. O artigo iluminou ainda mais um assunto que é alvo de muita discussão nos tempos atuais: a incidência de depressão e as formas de combatê-la.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença atinge cerca de 121 milhões de pessoas no planeta. Desse total, apenas 25% recebem tratamento adequado. A dificuldade é justamente diagnosticar um problema que é subjetivo e envolve emoções complexas. “Apesar das tentativas de padronização dos métodos que identificam esse mal, os critérios para isso ainda não são precisos”, justifica o psiquiatra Raphael Boechat, da Universidade de Brasília.

De forma geral, a depressão se distancia da tristeza quando os sintomas — falta de interesse pelas atividades cotidianas e insônia, entre vários outros — duram mais do que o esperado ou são desproporcionais ao episódio que despertou esse sentimento em determinado momento da vida. Nesses casos, e quando o médico afasta totalmente a possibilidade de se tratar de “tristeza reativa” — nome que os especialistas dão à dor que resulta de uma perda ou uma decepção —, os psiquiatras defendem a medicação. “Até mesmo os casos mais leves de depressão clínica devem ser tratados com antidepressivos para evitar que se transformem em problemas mais sérios lá na frente”, afirma Boechat.

“O crescimento do tratamento da depressão tem benefícios como a redução de suicídios e o aumento da produtividade”, alerta, em artigo recém-publicado no British Medical Journal, o psiquiatra Ian Hickie, da Universidade de Sydney, na Austrália. No entanto, há quem afirme que o número cada vez maior de diagnósticos de depressão denote a falta de critério dos médicos ao avaliar os pacientes. “Por falta de preparo, muitos acabam prescrevendo remédios para amenizar episódios simples de tristeza”, admite Boechat.

Médicos, psicólogos e psicanalistas do mundo todo começam a levantar uma bandeira que pode parecer estranha: a de que a tristeza não deve ser evitada a qualquer custo, pois faz parte do nosso cotidiano e até nos ajuda a crescer. “Há um sentido existencial nesse sentimento, pois ele nos faz questionar a nossa vida e buscar caminhos alternativos”, defende o psicólogo Fabiano Murgia, de São Paulo, autor do livro Salve a Depressão (Editora Edicta). Ele acredita que os quadros depressivos geralmente são criados por emoções mal resolvidas. E o remédio, de acordo com essa visão, alivia apenas o sintoma, sem cuidar da raíz do problema em si.

Essa tese, aliás, é defendida por vários pesquisadores. O livro The Antidepressant Solution (“A solução dos antidepressivos”, sem edição em português), do psiquiatra Joseph Glenmullen, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, provocou alvoroço ao colocar os antidepressivos na berlinda. Além de defender um controle mais rígido sobre o diagnóstico dos casos de depressão, o autor traz à tona possíveis efeitos colaterais dos medicamentos. Em teoria, eles são seguros e não provocam dependência. “Mas os efeitos de longo prazo ainda não são totalmente conhecidos”, ressalva o estudioso Jerome Wakefield, da Universidade de Nova York, que escreveu The Loss of Sadness (“A perda da tristeza”, também sem edição em português).
O ideal, então, seria procurar um especialista com formação adequada para lidar com casos de depressão. E recorrer aos remédios apenas quando eles forem realmente necessários. Afinal de contas, como disse Carlos Drummond de Andrade no poema Viver Não Dói, “o sofrimento é opcional; a dor é inevitável”.

Aos 40 a tristeza é maior

Pessoas jovens e idosas têm menos chances de desenvolver quadros de angústia e depressão do que aquelas que estão na meia-idade. Essa é a conclusão de um estudo publicado na revista Social Science & Medicine pelos economistas David Blanchflowere Andre Oswald. Os pesquisadores fizeram um levantamento de estatísticas sobre o bem-estar da população de vários países e descobriram que o gráfico da felicidade tem a forma da letra “U”, levando-se em conta a evolução do bem-estar nas diferentes fases da vida. No Brasil, por exemplo, a idade média para que alguém atinja o fundo do poço é 36,6 anos. “É uma idade inferior à registrada em outros países, mas o padrão de evolução do bem-estar é igual em todas as regiões do globo”, garante Oswald. A interpretação da análise é simples: crianças, jovens e idosos sentem-se melhor porque sofrem menos pressões e cobranças econômicas e sociais. Mas há quem ressalve: “Outras pesquisas indicam uma incidência maior de bem-estar na meia-idade”, diz Allan Horwitz, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, co-autor do livro The Loss of Sadness. A única certeza é de que tristeza e alegria fazem parte de todas as nossas fases e merecem ser vivenciadas.

Fonte: http://abr.ai/12kH03Q

As 5 Fases de Recuperação da Tristeza da Perda

Pela especialista de perdas Aurora Winter

“As pessoas muitas vezes não sabem o que fazer para se recuperarem da tristeza da perda”, disse Aurora Winter

“Só o tempo não cura. As ações corretas curam.”

Aqui estão cinco passos a dar após o funeral ou memorial:

Expresse seus sentimentos

“Os sentimentos não expressos são como envenenamento alimentar. Não mantenha o veneno dentro de você”, disse Aurora Winter, que fundou a Academia de Treinamento de Perdas após a morte de seu marido na idade de 33. Ela é apaixonada por ajudar as pessoas aflitas que sofreram uma perda. “Se você expressar seus sentimentos, você começa a liberá-los.”

Procure por apoio

Após o funeral ou memorial, obter apoio. “A cura é um processo, e há uma luz no fim do túnel. Mas sem a ajuda adequada, as pessoas podem sofrer de perda não resolvida durante anos”, diz Aurora. “Obtenha apoio para passar pela dor mais rapidamente. Converse com um profissional, tais como treinador certificado de perdas.”

Aceite seus sentimentos e da situação

“A aceitação é uma fase fundamental da recuperação da tristeza. Quando resistimos aos nossos sentimentos ou a situação, criamos um enorme estresse”, diz Aurora. “Quando eu finalmente aceitei a morte repentina do meu marido aos 33 anos de idade, mudou a minha vida. Percebi que, se eu fosse dada uma escolha, eu escolheria o meu destino. Eu ainda casaria com ele, e eu ainda teria o nosso filho.”

Deixe de lado a esperança de um melhor ontem

“Não importa o quanto achamos que algo não deveria ter acontecido, o que aconteceu ontem nunca vai mudar. Nunca. A paz vem quando deixamos de lado a esperança de uma noite diferente ou melhor”, diz Aurora.

Ajude outros

“A fase final de recuperação de tristeza é ajudar os outros”, diz Aurora. Ela encontrou a paz após a morte do maridoajudando outras pessoas a se curar da dor.” Ajudar os outros dá sentido ao que de outra forma seria uma tragédia sem sentido.”

O livro da Aurora “Do Coração Quebrado a Felicidade” é o seu diário íntimo de cura depois que seu marido morreu de repente na idade de 33 anos, deixando-a viúva com um filho de 4 anos de idade.

“Se eu posso ir de um coração quebrado para a felicidade, você também pode”.

Fonte: Curas do Câncer

Como funciona o medo?

por Julia Layton – traduzido por HowStuffWorks Brasil

Está escuro e você está sozinho em casa. Com exceção do programa que você está assistindo na TV, o silêncio é total. Então, você ouve a porta da frente repentinamente batendo. Sua respiração acelera. Seu coração dispara. Seus músculos enrijecem. Um segundo depois, você percebe que não tem ninguém tentando entrar em sua casa. Era apenas o vento.

Mas, por meio segundo, você sentiu tanto medo que reagiu como se sua vida estivesse em perigo. O que causa essa reação tão intensa? O que é o medo exatamente? Neste artigo, vamos examinar as propriedades físicas e psicológicas do medo, descobrir o que causa uma reação de medo e ver algumas maneiras de derrotá-lo.

O que é o medo?

O medo é uma reação em cadeia no cérebro que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos químicos que causam aumento da freqüência cardíaca, aceleração na respiração e energização dos músculos. O estímulo pode ser uma aranha, um auditório cheio de pessoas esperando que você fale ou a batida repentina da porta de sua casa.

O cérebro é um órgão extremamente complexo. Mais de 100 bilhões de células nervosas compõem uma intrincada de rede de comunicações que é o ponto de largada para tudo o que sentimos, pensamos ou fazemos. Algumas dessas comunicações levam ao pensamento e à ação consciente, ao passo que outras produzem respostas autônomas. A resposta ao medo é quase inteiramente autônoma: não a disparamos conscientemente.
Como as células do cérebro estão constantemente transferindo informações e iniciando respostas, há dúzias de áreas do cérebro envolvidas no sentimento de medo. Mas pesquisas mostram que determinadas partes desempenham papéis centrais nesse processo.

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  • Tálamo – decide para onde enviar os dados sensoriais recebidos (dos olhos, dos ouvidos, da boca e da pele).
  • Córtex sensorial – interpreta os dados sensoriais.
  • Hipocampo – armazena e busca memórias conscientes, além de processar conjuntos de estímulos para estabelecer um contexto.
  • Amígdala (Tonsila cerebelar) – decodifica emoções, determina possíveis ameaças e armazena memórias do medo.
  • Hipotálamo – ativa a reação de “luta ou fuga”.

O processo de criação do medo começa com um estímulo assustador e termina com a reação de luta ou fuga. Mas há pelo menos dois caminhos entre o início e o final do processo.

Criando medo

O processo de criação do medo acontece no cérebro e é totalmente inconsciente. Há dois caminhos envolvidos na reação de medo: o caminho baixo é rápido e desordenado, ao passo que o caminho alto leva mais tempo e entrega uma interpretação mais precisa dos eventos. Ambos os processos acontecem simultaneamente.

A idéia por trás do caminho baixo é “não arrisque”. Se a porta da frente de sua casa repentinamente bate, pode ser o vento, mas também pode ser um ladrão tentando entrar. É muito menos perigoso presumir que se trata de um ladrão e descobrir que era só o vento do que presumir que é o vento e aparecer um ladrão em sua frente. O caminho baixo é do tipo que atira primeiro e pergunta depois. O processo desse caminho é mais ou menos assim:

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A porta batendo é o estímulo. Quando você ouve o som e vê o movimento, seu cérebro envia esses dados sensoriais para o tálamo. Nesse ponto, o tálamo não sabe se os sinais que está recebendo são sinais de perigo ou não. Mas, pelo fato de poder ser, ele encaminha a informação para a amígdala. A amígdala, por sua vez, recebe os impulsos neurais e age para proteger você: ela diz ao hipotálamo para iniciar a reação de luta ou fuga.

O caminho alto é muito mais ponderado. Ele reflete sobre todas as opções. Será um ladrão ou será que é o vento? Esse é um processo meis longo.

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Quando seus olhos e ouvidos captam o som e o movimento da porta, eles desviam essa informação para o tálamo, que, por sua vez, envia a informação para o córtex sensorial, no qual é interpretada em busca de um significado. O córtex sensorial determina que há mais de uma interpretação possível para os dados e os envia ao hipocampo para que ele estabeleça um contexto. O hipocampo faz perguntas como: “Eu já vi este estímulo específico antes? Se vi, o que significou naquela vez? O que mais está acontecendo que pode me indicar se isso é um ladrão ou efeito de um vento forte”? O hipocampo pode captar outros dados sendo enviados pelo caminho alto, como o bater de galhos contra a janela, ruídos externos, etc. E, levando em consideração essas outras informações, ele determina que a batida da porta provavelmente foi resultado do vento. Depois, envia uma mensagem para a amígdala dizendo que não há perigo e a amígdala informa ao hipotálamo para desligar a reação de luta ou fuga.

Os dados sensoriais a respeito da porta (os estímulos) seguem os dois caminhos ao mesmo tempo. Mas o caminho alto leva mais tempo do que o caminho baixo. É por isso que você tem um ou dois momentos de medo antes de se acalmar.

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Tanto o caminho alto quanto o caminho baixo levam ao hipotálamo. Essa parte do cérebro controla a reação de sobrevivência chamada de reação de luta ou fuga.

Luta ou fuga

Para produzir a reação de luta ou fuga, o hipotálamo ativa dois sistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema adrenocortical. O primeiro usa vias nervosas para iniciar reações no corpo, ao passo que o segundo usa a corrente sangüínea. Os efeitos combinados dos dois sistemas são a reação de luta ou fuga.

Quando o hipotálamo informa ao sistema nervoso simpático que é hora de entrar em ação, o efeito geral é que o corpo acelera, fica tenso e mais alerta. Se houver um ladrão à porta, você vai ter de fazer algo, e rápido. O sistema nervoso simpático envia impulsos para as glândulas e músculos lisos e diz à medula adrenal para liberar adrenalina e noradrenalina na corrente sangüínea. Esses “hormônios do estresse” efetuam várias mudanças no corpo, incluindo um aumento na freqüência cardíaca e na pressão sangüínea.

Ao mesmo tempo, o hipotálamo livra o fator de liberação de corticotropina (CRF) na glândula pituitária, ativando o sistema adrenocortical. A glândula pituitária (uma das principais glândulas endócrinas – em inglês) secreta o hormônio ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), que se move pela corrente sangüínea e finalmente chega ao córtex adrenal, no qual ativa a liberação de aproximadamente trinta hormônios diferentes para preparar o corpo para lidar com uma ameaça.

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A vazão repentina de adrenalina, noradrenalina e vários outros hormônios causa mudanças no corpo:

  • aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca;
  • as pupilas dilatam para receber a maior quantidade possível de luz;
  • as artérias da pele se contraem para enviar uma quantidade de sangue mais significativa aos grupos musculares maiores (reação responsável pelo “calafrio” muitas vezes associado com o medo – há menos sangue na pele para mantê-lo aquecido);
  • o nível de glicose sangüínea diminui;
  • os músculos enrijecem, energizados por adrenalina e glicose (reação responsável pelos arrepios – quando pequenos músculos conectados a cada pêlo da superfície da pele tensionam, os fios são forçados para cima, puxando a pele com eles);
  • a musculatura lisa relaxa para permitir que entre uma maior quantidade de oxigênio nos pulmões;
  • sistemas não essenciais (como o digestivo e o imunológico) são desligados para guardar a energia para as funções de emergência;
  • há dificuldade para se concentrar em tarefas pequenas (o cérebro deve se concentrar em somente uma coisa para determinar de onde vem a ameaça).

Todas essas reações físicas têm a intenção de lhe ajudar a sobreviver a uma situação perigosa. O medo (e a reação de luta ou fuga em particular) é um instinto que todo animal possui.

Fonte: http://bit.ly/15fZj7I